O Requiem de Wolfgang Amadeus Mozart ganha uma dimensão excecional numa apresentação do ARTE Concert, gravada na Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, onde música sacra, arquitetura e espiritualidade se encontram num dos cenários mais simbólicos da Europa.
A obra — composta em 1791, nos últimos meses de vida de Mozart, e concluída após a sua morte por Franz Xaver Süssmayr — ressoa sob as abóbadas monumentais concebidas por Antoni Gaudí, criando uma experiência sonora e visual de grande intensidade.
A escolha da Sagrada Família não é apenas estética. A basílica, ainda em construção mais de um século após o início das obras, partilha com o Requiem uma condição singular: ambas são criações marcadas pela incompletude e pela continuidade para além do seu autor. A acústica do espaço amplifica o carácter dramático da partitura, enquanto a “floresta” de colunas e a luz filtrada pelos vitrais reforçam os contrastes centrais da obra — entre vida e morte, temor e redenção, dor e esperança.
Ao longo dos diferentes andamentos — Dies irae, Confutatis, Lacrimosa — o coro e a orquestra dialogam com a verticalidade do edifício, fazendo a música ascender e regressar, como um ritual coletivo. A interpretação beneficia de uma captação cuidada, que valoriza tanto a densidade sonora como o silêncio, elemento essencial nesta missa fúnebre.
Filmada com sensibilidade cinematográfica, esta produção do ARTE Concert ultrapassa o formato tradicional de concerto. Propõe antes uma experiência contemplativa, onde o último grande testemunho musical de Mozart é iluminado pela arquitetura visionária de Gaudí. O resultado é um momento de escuta profunda e partilhada, em que o Requiem transcende o tempo e o espaço e se afirma como uma reflexão universal sobre a mortalidade, a beleza e a transcendência.


