Acoustic Energy AE100²: muito som por pouco dinheiro

António Eduardo Marques
Por
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Colunas Acoustic Energy AE100²


Este artigo não é um teste às colunas Acoustic Energy AE100². É mais a partilha de um cenário de utilização que poderá ou não fazer sentido para quem lê. E, já agora, uma história que é também um alerta para quem fetichisa o chamado "áudio vintage". 


Os meus amigos sabem que "gosto muito de aparelhagens" – a minha jornada no hi-fi começou nos anos 80 – mas não me considero um "audiófilo" no sentido tradicional da palavra. Ou seja, gosto de "ter um bom sistema", mas nunca gastei muito dinheiro em alta fidelidade. Além disso, também tendo a manter o meu equipamento durante muitos anos, até ao momento em que mudo um ou mais componentes de uma só vez.

A última vez que isso aconteceu foi há mais de 15 anos e, até há 48 horas, o meu sistema consistia num gira-discos Denon DP59L com célula Ortofon 2M Blue, leitor universal Cambridge Audio Azur 650BD; um conjunto pré/power Rotel 06 Series (RC-06 e RB-06); um pré de phono Pro-Ject Audio Phono Box; e um par de colunas Jamo Concert 8 (também conhecidas pela referência D830).


O gira-discos é a minha peça mais antiga e a única que sobreviveu aos anos 80, apesar da célula moderna (já por lá passaram muitas, entre MMs e MCs). O par Rotel faz "parte da mobília" também há muito tempo (foi desde há muito descontinuado pela marca) e só a avaria recente do andar de phono integrado me fez adicionar ao RC-06 a Phono Box como componente discreto. Outro componente que chegou a incorporar este sistema foi o gravador de CD Áudio
Tascam CD-RW900SL, cujo transporte se avariou entretanto.


Quanto às colunas, tendo ganho o
prémio EISA para "melhores colunas" em 1997, comprei-as (já neste século) a bom preço ao distribuidor português, que tinha um último par em caixa selada, "perdida" no armazém, anos depois de terem sido descontinuadas. E sim, ainda são do tempo em que eram "Made in Denmark"!


Uma sala, um sistema


Olhando apenas para os componentes, este não é "um mau sistema". É um sistema algo modesto, mas equilibrado e com alguns componentes que, na altura, foram razoavelmente caros (caso do gira-discos) e outros, que tendo sido oportunidades, eram bastante caros (caso das colunas) se tivessem sido comprados novos. Sendo que os termos "razoável" e "bastante" são sempre relativos ao que eu estou disposto a pagar por componentes de hi-fi, evidentemente.


O problema é que os sistemas não existem no vácuo; têm que ser instalados em salas concretas, para serem desfrutados em condições que nem sempre são as ideais.


E assim aconteceu com este meu sistema. O maior compromisso consiste na forma como as colunas estão colocadas e posicionadas. Já em tempos beneficiaram da sua instalação sobre suportes adequados; contudo, há anos houve uma redecoração da sala e foram relegadas para o topo do mesmo móvel (do IKEA! – o horror…) em que os componentes do sistema estão alojados.


Não só a forma como estão suportadas não é a ideal, longe disso!, como estão também colocadas demasiado baixo face à posição de audição – deviam estar uns bons 20 centímetros acima do que estão. Mas, como diria alguém, it is what it is.


O que mudou nas últimas horas e que me levou a ter que prescindir de um dos componentes do meu sistema de que mais gostava (as colunas) foi a troca do meu televisor Samsung de 75'' por um TCL de 85'' (de que em breve publicarei aqui uma análise). Tenho o painel na parede, atrás das colunas, mas o ecrã é agora tão grande que as colunas ficavam à frente da TV.


A solução, no contexto da logística doméstica (incluindo o
WAF), passou por ter de trocar as colunas por… umas mais pequenas. Dadas as dimensões disponíveis, o ideal era que tivessem cerca de 30 cm de altura. Ou seja, bastante mais pequenas do que as Jamo (que têm 38 cm de altura).

Colunas a metro?


Sim, ouviram bem: abordei o mercado no sentido de comprar umas colunas novas sendo que o critério principal era… a sua dimensão.


Claro que para termos colunas de excelente qualidade não é preciso comprar colunas de grandes dimensões. Mas a física não perdoa, e uma coluna pequena terá sempre limitações, quanto mais não seja pelo facto de não poder suportar altifalantes de grandes dimensões e de o volume interior da caixa também limitar a resposta de frequência – sobretudo nos registos mais graves.


Obviamente que nem tudo se reduz às dimensões. Cabe a cada construtor fazer a sua "magia" com as limitações que tem, selecionando materiais, componentes e soluções inovadoras que possam compensar as limitações das caixas.


Para abreviar uma história que já vai longa, a minha lista de possibilidades acabou por identificar as
Acustic Energy AE100
² como uma forte possibilidade para substituírem as minhas adoradas Jamo. Contactada a Exaudio, que representa a marca em Portugal, confirmei a disponibilidade do modelo e ontem levei-as para casa… bastante apreensivo.


Confesso que estava preparado para perder qualidade de som. Afinal, estamos a trocar umas colunas que, originalmente, custavam mais de 1000€ (há 30 anos!, o que significa 1800€ em dinheiro de hoje,
feitas as contas à inflação) por um produto que custa apenas 349€. Contudo, tinha também esperança de ganhar algo no processo, nomeadamente a evolução da tecnologia ao longo dos últimos 30 anos.


Mais por menos



Colunas Acoustic Energy AE100 mkII
As minhas AE100² "instaladas" no seu local definitivo

Em qualquer dos casos, nada me preparou para o que sucedeu na prática. Na véspera da troca, ouvi alguns dos meus discos preferidos para me "despedir" das Jamo. E voltei a eles ao instalar as Acoustic Energy. Primeira reação da minha mulher ao vê-las ao lado do TCL: "mas que colunas tão insignificantes!" (e são, quando comparadas com as Jamo…).


Felizmente, a "insignificância" dos seus 29 cm de altura ficou-se pelas aparências. O primeiro tema que pus a tocar foi
Come On Home, do álbum "Baby, The Stars Shine Bright" dos Everything But The Girl, gravação que me acompanha desde o final dos anos 80. A revelação deu-se logo aos 9 segundos após o início do tema, quando após a introdução com o arranjo de cordas, a secção rítmica arranca.


É o momento de perceber se vamos ter realmente graves ou só um vislumbre dos ditos. E a surpresa foi total: não só a extensão das frequências mais baixas é real, como a sua reprodução é mais precisa, e num palco sonoro mais bem definido, do que nas Jamo – sempre no contexto da maneira como ambas as colunas estão (deficientemente) posicionadas na minha sala.

O resto do tema demonstra bem a clareza e precisão das Acoustic Energy, num tema que tem imenso espaço e reverberação, com os vocais cristalinos e projetados de Tracey Thorn num palco sonoro convincente.


Outro tema que gosto de usar para testar a extensão de graves é "
Peel Me A Grape", do álbum Love Scenes, de Diana Krall. É um tema onde pontuam apenas três instrumentos (além da voz de Krall) – piano, guitarra elétrica e contrabaixo – e cujo carácter intimista muitas se perde em sistemas menos capazes.


Uma vez mais, o palco sonoro das Acoustic Energy conjugado com a extensão e precisão da resposta dos graves não deixou créditos por mãos alheias. Diana cantava ali na minha sala, cada instrumento a ocupar o seu lugar, nítido no posicionamento e claro na reprodução.

Vintage vs moderno


Vou poupar-vos o resto das minhas audições. Mas posso garantir que não encontrei nenhum tema que não mostrasse a superioridades destas colunas de 350€ face às minhas Jamo de 1800€. E não é uma superioridade "tendo em atenção o preço" (e o tamanho, já agora), mas sim uma superioridade clara e em termos absolutos.


Confesso que tinha esperança que 30 anos de evolução tecnológica compensassem o que me parecia ser uma discrepância substancial entre as duas colunas – tamanho, gama, preço, características técnicas "no papel", etc. Tinha esperança, mas estava absolutamente convencido que não seria suficiente. Mas foi.


O que nos ensina também outra coisa: esta ideia, por vezes algo "fetichista", de que "o áudio vintage é que é bom" passa ao lado de tecnologia que pode fazer (e muitas vezes faz) a diferença.


Não digo que o áudio vintage não presta – há certamente bons equipamentos cuja qualidade ainda hoje é uma referência. Mas nem sempre isso acontece. Mesmo quando se compara umas colunas de gama média-alta Made in Denmark com umas de entrada de gama Made in China!


Uma nota final para lembrar porque razão avisei no início que este não é um teste às Acoustic Energy AE1002: é que este comparativo que vos descrevi só faz sentido no meu setup particular e, até, em circunstâncias pouco favoráveis às colunas.


Não tendo eu condições mais "neutras" de instalação/posicionamento para realizar o teste, não posso ser taxativo nas minhas conclusões. O que nos leva a outro conselho recorrente nestas coisas da alta fidelidade: idealmente, testar o equipamento a comprar num cenário o mais aproximado daquele que será o da sua instalação final. Melhor ainda: comprar numa loja física, criando uma relação de confiança com quem vende, de forma a facilitar esses testes.


Mas a sério: procurem as AE100
² e ouçam-nas. Acho que vão ficar tão agradavelmente surpreendidos como eu. Sobretudo ao descobrirem que não é preciso gastar muito dinheiro para ter um som de muita qualidade.


Acoustic Energy AE100²
PVP: 349€
Distribuição: Exaudio


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