Cinema-em-casa não é apenas um conceito. É trazer para a sala de estar (ou qualquer outra divisão da casa) a experiência que normalmente temos no cinema. É algo que persigo desde 2007 e agora, quase 20 anos depois, consegui – ou quase.
Em meados dos anos 2000, a minha mulher – que gosta muito de filmes, mas pouco da
experiência da sala de cinema propriamente dita – tentou convencer-me a comprar
um televisor de grandes dimensões.
Eu sei, costuma ser ao contrário: o homem da família querer
o maior ecrã possível e mulher a puxar em sentido contrário. O resultado é,
normalmente, pouco satisfatório, com um ecrã que não é suficientemente grande
para quem queria maior, nem tão pequeno como a cara-metade gostaria.
Estávamos em 2007 e o upgrade foi um de um LCD Toshiba de 32’’
(na altura, um dos primeiros FullHD com estas dimensões, e nada barato!) para
um plasma Panasonic Viera de 50’’. Para o meu orçamento, foi o melhor que
consegui entre a qualidade que pretendia e as dimensões desejadas. O
compromisso não existiu em termos da qualidade, mas o impacto da passagem de 32’’
para 50’’ desvaneceu-se em pouco mais de 24 horas – mesmo com o sofá colocado a
apenas 3 metros da parede onde o ecrã foi montado.
Quase 10 anos passaram para um novo upgrade. A ideia era
comprar um televisor de 75’’. Mas em 2016 os preços eram ainda bastante altos.
No entanto, aproveitando uma promoção a propósito do Euro 2016 lá gastei 2000€
(o orçamento que tinha alocado) num LCD Samsung.
E foi este que tive até há cerca de dois meses. O painel do Samsung
começou a dar sinais de que queria entregar a alma ao seu criador sul-coreano,
com cada vez mais problemas de uniformidade de cor e falhas na retroiluminação.
Uma vez mais, o orçamento era de 2000€, mas desta vez, para comprar um televisor
não apenas maior (85’’) como melhor.
Além de económicos, os requisitos eram técnicos, mas também
práticos. Por 2000€ ou menos, queria um painel maior, mas mini-LED; quatro (em
vez de três) entradas HDMI; e suporte para VRR (por causa das duas consolas de
jogos ligadas na sala). Um sistema de som integrado de qualidade seria bom, embora não
um “deal breaker” (porque ligo a TV ao Hi-Fi estéreo). E, este sim
um “deal breaker”, o sistema operativo deveria ser Google TV.
Aspetos práticos
A insistência no Google TV vinha da minha experiência
anterior com o Samsung e o Panasonic – este entretanto relegado para o quarto. De
forma a reduzir a quantidade de comandos à distância, desliguei a box do
serviço de TV da Vodafone e estava apenas a usar a app numa nVidia Shield Pro.
Também no quarto, um Google Chromecast fazia as honras de suporte de
funcionalidades “smart”, uma vez que o sistema operativo integrado desde há
muito deixou de ser atualizado e, como tal, de suportar basicamente qualquer
app moderna, desde o YouTube a qualquer serviço de streaming de video.
Claro que querer uma TV mini-LED de 85’’ com Google TV me
deixava basicamente três opções de marcas: Hisense, Sony e TCL. Como só queria gastar um
máximo de 2000€, a Sony ficou automaticamente fora do orçamento – nenhuma promoção,
por muito incrível que fosse, me permitiria aceder aos mini-LED da marca japonesa.
Restava a Hisense e a TCL. Entre ambas, as análises que tenho
visto não encontram grandes diferenças em confrontos diretos entre gamas comparáveis,
mas reconheço alguma simpatia (daquelas simpatias que não sabemos muito bem
porque é que existe) pela TCL. Que tem a seu favor o facto de produzir os seus próprios painéis e se ter
vindo a posicionar como líder em tecnologia mini-LED.
O TCL 85C7K
A escolha acabou por recair no TCL 85C7K, um modelo lançado já
este ano, que inclui a última iteração da tecnologia mini-LED da marca chinesa
e cumpre absolutamente todos os requisitos que tinha colocado – incluindo um
excelente sistema de som integrado.
O facto de o ter comprado numa promoção da Worten por apenas
1450 euros tornou a decisão ainda mais fácil de tomar (o preço de referência é de
2099€).
Ou seja, esta análise é do meu televisor – e não de
qualquer amostra que me tenha sido enviada pela marca. Como tal, é também uma “análise
de longa duração” – porque tenho a TV há quase dois meses – bem como do
contexto específico da sua instalação: montado diretamente na parede e com um
sofá para visionamento situado precisamente em frente ao ecrã, a cerca de 3
metros.
E é esta conjugação entre 85’’ de diagonal e uma distância
de 3 metros que resulta no efeito de verdadeiro “cinema-em-casa”. Há
quem sugira que esse efeito se obtém, a esta distância, com apenas 75’’,
mas eu discordo. Esta diagonal é excelente e, caso tivesse parede para isso (não tenho), 98''/100'' seria ainda melhor!
Deixo no final deste texto links para as especificações
técnicas do televisor, que não vale a pena estar a abordar em detalhe. Mas há
coisas que as especificações (e até análises em sites especializados que tenho
visto e lido) não contam ou detalhes que não serão tão relevantes para outros
como são para mim.
É o caso da implementação do sistema operativo Google TV. Já lidei com
televisores (também de 2025) com Google TV que levavam quase 30 segundos entre
o momento de saírem do modo stand-by para uma interface totalmente funcional; este
TCL, que tem vários modos de espera (consoante o que fica ligado em segundo
plano), mesmo no modo de “sono” mais profundo, não leva mais do que um (sim,
um!) segundo a “acordar”.
Melhor ainda: quando comparado com o desempenho da nVidia
Shield Pro, normalmente considerada como a mais potente “Android Box” do
mercado, a implementação Google TV deste TCL é claramente melhor, com tudo a
acontecer mais rapidamente, desde a navegação ao arranque das aplicações. Só
lamento que o comando à distância, de resto excelente, não seja retroiluminado.
Som à altura da imagem
Outro aspeto que vale a pena salientar nesta TV é o sistema
de som integrado, criado pela Bang &
Olufsen. Temos suporte para Dolby Atmos, mas não creio que seja algo para
levar muito a sério. Contudo, é muito bom; suficientemente bom, aliás, para frequentemente
não me dar ao trabalho de ligar o amplificador do meu sistema estéreo ao qual a
TV está também ligada.
Os modos Cinema e Música são particularmente bons e a reprodução
de música via Spotify na TV (que tem um modo “só áudio” para desligar o painel,
mantendo a reprodução em segundo plano) é perfeitamente aceitável. Digo “aceitável”
porque não há milagres, mas também porque em todas as TVs que tenho visto/ouvido
até agora, nunca chegam ao limiar do “aceitável” no que diz respeito ao som.
Nesta TCL como em qualquer outra TV, a sua ligação a um
sistema de som, qualquer ele que seja – recetor A/V, sistema estéreo, barra de
som… – é quase obrigatória. Contudo, esta é a primeira vez que sinto que, sendo
“obrigatório”, a discrepância entre o que temos diretamente no painel e os
altifalantes discretos de um sistema de som externo não é tão grande como
habitualmente.
Excelente imagem
Não possuo ferramentas de medição que me permitam confirmar
se os valores teóricos anunciados pela TCL correspondem à realidade. Mas há
várias coisas que posso confirmar. A primeira é que este é um televisor com um
elevado nível máximo de brilho (3000 nits). Isto, por si só, não é relevante, mas é-o no contexto dos
conteúdos HDR, onde o 85C7K mostra resultados excelentes.
Todas as TVs funcionam bem em salas totalmente (ou quase) às escuras, mas o elevado brilho, conjugado com um painel cujo tratamento antirreflexo funciona razoavelmente bem, torna este televisor igualmente adequado para visionamento durante o dia e/ou com luzes acesas.
Tive também dúvidas sobre a uniformidade do painel, dadas as
suas grandes dimensões. Testei recentemente um televisor mini-LED de outra
marca, igualmente de 2025, mas com painel bem mais pequeno (65’’), onde a retroiluminação
demonstrava claros problemas de vinhetagem (escurecimentos dos cantos).
Ao reproduzir vídeos 4K com padrões de teste de cor, posso
garantir que não é visível qualquer fenómeno deste tipo no TCL. Pelo menos a
olho nu, a uniformidade, quer em termos de brilho, quer de cor, é muitíssimo boa.
A TCL indica que o painel HVA deste modelo de 85’’ (que combina
tecnologia QLED com mini-LED), possui um total de 2048 zonas de iluminação, para
as quais a marca usa agora uma nova geração de mini-LED mais pequenos, que
permitem um melhor controlo e, consequentemente, maior contraste.
Segundo a TCL, este hardware conjugado com um novo algoritmo
elimina por completo do chamado “efeito de halo” típica da tecnologia mini-LED
em situações como legendas, por exemplo, aproximando a resposta deste ecrã daquilo
que estamos habituados a ver nos painéis OLED. É verdade que este efeito de
halo está muito bem controlado, sobretudo no caso referido das legendas;
contudo, mantém-se pontualmente em situações de letras brancas (ou claras) sob
fundo totalmente preto.
Não é aparente quando estamos a ver um filme, que é o mais
importante, mas é percetível no final do dito, quando os créditos finais
desfilam no ecrã. Acredito que atualizações de software futuras possam mitigar
ainda mais o efeito.
Profusão de controlos
Quem adquirir um modelo desta série deverá estar preparado(a)
para passar algum tempo a experimentar quais as melhores definições de imagem.
Pelo meu lado, desliguei quase tudo o que era processamento e uso a TV em modo Cinema.
Nesta geração, a TCL implementou várias funcionalidades com
IA… que não aprecio. O processador de imagem, que é bastante bom na
sobreamostragem de conteúdos para 4K (no caso de Full HD para 4K é praticamente
impossível vermos a diferença face a conteúdos nativos) não me pareceu
suficientemente poderoso para implementar funcionalidades mais sofisticadas em
tempo real. Tudo o que são definições “dinâmicas” – cor, contraste, brilho –
acabam por se tornar percetíveis quando em funcionamento. O meu conselho é
desligar tudo o que mexa demasiado na imagem, para além do básico: brilho,
contraste, gama…
Uma vez estabelecidos os parâmetros principais, tudo é
facilmente acessível através de um menu flutuante que nos deixa alterar facilmente
predefinições, tais como modos de som e de imagem, fontes, etc.
Para os mais puristas, é bom salientar que, pela primeira vez nos modelos de 2025, a TCL suporta agora o chamado “Filmmaker Mode”, o qual
pode até ser detetado automaticamente, caso assim o desejemos, e funciona muito
bem em conjunto com alguns dos principais fornecedores de serviços de
streaming, como é o caso da Prime Video e da Netflix.
Gama completa
A gama C7K consiste em nada menos que 7 modelos, com diagonais entre 50'' e 115''. Contudo, há diferenças entre eles que vão além das dimensões. Por exemplo, o modelo de 50'' não inclui o sistema de som da B&O e o mesmo acontece no extremo superior, em que é a Onkyo a fornecer o som do modelo de 115'', neste caso com um conjunto de altifalantes 4.2.2 para uma solução Dolby Atmos discreta.
Outra diferença, normal no mundo mini-LED é a quantidade de zonas de iluminação, que varia naturalmente consoante o tamanho do painel. De resto, o tipo de painel e a maioria das restantes funcionalidades deverá ser igual.
Conclusão
Não podia estar mais satisfeito com a minha compra, sobretudo
tendo em consideração aquilo que paguei. Ao contrário do que aconteceu com o plasma
de 50’’ e o LCD de 75’’, agora estou bastante contente com a sensação de imersão
que este televisor me dá na minha sala.
De resto, mesmo que quisesse 98’’ – a dimensão seguinte, e
também disponível nesta gama da TCL – o preço dá um salto muito grande. O PVP
recomendado pela TCL é de 3.499€, que é mais do dobro do que paguei por este de
85’’! Talvez daqui a 10 anos...
Podia escrever três vezes mais sobre os detalhes deste
televisor, mas o essencial é isto:
a qualidade de imagem é excelente; o som é muito bom; e a relação preço-qualidade é imbatível.
Para quem tenha interesse em comprar este modelo, só sugiro alguma paciência e aguardar por uma promoção, porque a variação do preço ao longo do tempo é bastante significativa.
Deixo aqui links para mais informação, bem como para alguns
dos vídeos que utilizei nos testes de som e imagem:
Página oficial: https://www.tcl.com/pt/pt/tvs/85c7k
Tecnologia HVA: https://en.tclcsot.com/Innovativetechnology/315.html
Manual: https://bit.ly/TCL_85C7K
Vídeos
Padrões de teste de imagem
https://youtu.be/BA0ONw9oirE
https://youtu.be/N2SKi7oMwH4
https://youtu.be/S7SLep244ss
Vídeos HDR
https://www.youtube.com/@jennifergala
Testes de som
https://www.youtube.com/@AudioSignalSuite
Calculadores de distâncias
https://www.rtings.com/tv/reviews/by-size/size-to-distance-relationship
http://www.hometheaterengineering.com/viewingdistancemetric.html