"I Want My MTV": o fim de uma era que moldou gerações e transformou a música

Fernando Marques
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MTV


"Eu quero a minha MTV" era como começava a canção dos Dire Straits, num videoclipe ou teledisco — como lhe chamava-mos por cá — feito em 1985 com recurso a gráficos computorizados. Recordo-me de ter sido algo que me marcou profundamente. 


O encerramento da MTV (Music Television) até ao final de 2025 marca o fim de uma força cultural que uniu gerações e redefiniu a forma como o mundo consumia música. A perda do canal simboliza o desaparecimento de uma experiência coletiva que inspirou fãs, lançou artistas e transformou videoclipes em ícones da cultura popular.





Desde 1981, quando surgiu com o profético Video Killed the Radio Star dos The Buggles, a MTV revolucionou o modo como a música era vivida. Ao combinar os mais recentes êxitos com vídeos inovadores, o canal tornou-se a banda sonora de uma geração e transformou apresentadores e músicos em estrelas globais. Pela primeira vez, ver música tornou-se tão importante quanto ouvi-la.





A MTV deu visibilidade a géneros muitas vezes ignorados pela televisão tradicional — como o heavy metal, o new wave, o grunge e o hip-hop — e ofereceu palco a artistas que as rádios raramente tocavam. O canal também elevou realizadores de videoclipes a criadores de renome e fundiu música com moda, estilo e atitude, ditando tendências em todo o mundo.


Mais do que um canal musical, a MTV foi um espaço de convergência cultural. Conectou jovens de diferentes países através de experiências partilhadas e abordou temas de raça, género e identidade de formas que desafiaram convenções sociais. A sua estética — marcada pela edição rápida e visual dinâmico — influenciou a publicidade, o cinema e, mais tarde, até a internet.





Tal como na canção dos The Buggles, desta vez foi o streaming a matar as video stars




Nos anos 90, com programas como The Real World, o canal abriu caminho à ascensão da televisão de realidade. No entanto, à medida que o foco mudou para formatos mais comerciais, perdeu-se o sentido de comunidade que definira o seu início. Tal como na canção dos The Buggles, desta vez foi o streaming a matar as video stars e o consumo musical migrou para plataformas digitais, fragmentando uma experiência que antes era global e partilhada.





Para os artistas, o desaparecimento da MTV representa o fim de uma ligação histórica com uma plataforma que lançou carreiras e moldou identidades. Embora o YouTube e o TikTok tenham herdado parte desse papel, a experiência tornou-se individual e algorítmica — longe da visão coletiva da MTV.


Durante mais de quatro décadas, a MTV foi espelho e banda sonora da juventude mundial. O seu fim não é apenas o fecho de um canal, mas o adeus a uma era em que a música unia pessoas, definia estilos e ajudou a construir em quem nos tornámos.

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