HiFi Rose RA280 — O poder discreto da inovação analógica

Fernando Marques
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HiFi Rose RA280

A HiFi Rose voltou a desafiar as convenções com o RA280, um amplificador integrado que, à primeira vista, parece pertencer a outra era. Numa altura em que quase todos os equipamentos semelhantes apostam em conectividade digital, plataformas de streaming e integração total com redes domésticas, o RA280 surge como um manifesto analógico — uma prova de que a simplicidade bem executada continua a ter lugar na alta-fidelidade.


Um amplificador que contraria expectativas


Contudo, sob o seu exterior sóbrio e o painel de ligações minimalista, esconde-se uma engenharia moderna e requintada. Quem conheça a linha da HiFi Rose, nomeadamente o streamer RS130, poderá assumir que o RA280 segue a mesma filosofia “inteligente” e digitalmente versátil. Mas basta olhar para o painel traseiro para perceber que o caso é outro: este é um amplificador puramente analógico, sem entradas digitais, sem Wi-Fi, sem Bluetooth — nem sequer uma saída para auscultadores.


O RA280 oferece apenas o essencial: uma entrada XLR balanceada, três RCA de linha e um estágio phono MM dedicado, além de uma única saída para subwoofer. Esta escolha, embora contra a corrente, revela coerência quando vista em conjunto com os streamers da marca: cada aparelho da HiFi Rose tem uma função distinta e especializada, evitando redundâncias.


HiFi Rose RA280



Potência e sofisticação técnica


Apesar da aparência conservadora, o RA280 é um design Classe D de última geração. Tal como o seu irmão maior, o RA180, que já testámos aqui no Música&Som, utiliza transístores GaN FET (nitreto de gálio) — componentes que permitem uma comutação ultrarrápida, minimizando o chamado “tempo morto” entre estados e reduzindo distorção e ruído. Com 250 W por canal a 8 ohms, o RA280 não carece de potência. A sua fonte de alimentação comutada é capaz de fornecer até 2,5 kW em picos dinâmicos, garantindo reservas de energia impressionantes para qualquer coluna exigente. O uso de FETs de carboneto de silício reforça ainda mais a estabilidade e a eficiência térmica, tornando o RA280 não apenas potente, mas também silencioso e previsivelmente fiável.



Comparado com o RA180, o novo modelo elimina o excesso de controlos e equalizações, optando por uma interface mais limpa e focada na essência





Design industrial refinado


Visualmente, o RA280 segue a estética da HiFi Rose, mas com uma abordagem mais contida do que o exuberante RA180. A estrutura em alumínio e aço mate (9,5 kg) exibe um acabamento irrepreensível, disponível em preto ou prateado. O painel frontal apresenta VU meters iluminados e reguláveis, um seletor de entrada metálico de acionamento manual e um controlo de volume motorizado, iluminado e de excelente tato. O comando remoto, em alumínio, é pequeno mas ergonómico.


Comparado com o RA180, o novo modelo elimina o excesso de controlos e equalizações, optando por uma interface mais limpa e focada na essência: dois canais, controlo de tom ±15 dB (100 Hz e 10 kHz) e um desempenho transparente. O resultado é um amplificador com design steampunk suavizado, mas igualmente distinto e moderno.


HiFi Rose RA280

A canção "One Nite Alone..." do álbum com o mesmo nome de Prince, foi reproduzida com uma apresentação vívida e tridimensional da voz do artista apenas acompanhada por si ao piano



HiFi Rose RA280


Um som com alma — Classe D que soa a válvulas


O mais surpreendente no RA280 é a sua assinatura sonora. Apesar de ser Classe D, o seu timbre lembra o de um amplificador valvulado. O som é rico, natural e envolvente, com uma textura orgânica que evita tanto a frieza clínica como o exagero caloroso. Em temas como "One Nite Alone..." do álbum com o mesmo nome de Prince, a musicalidade é plena e fluida, com uma apresentação vívida e tridimensional da voz do artista apenas acompanhada por si ao piano.


A reserva dinâmica é assombrosa — o RA280 parece inesgotável, mesmo quando emparelhado com colunas exigentes como as planar magnéticas Dyptique dp77. O grave é profundo, articulado e controlado, enquanto os médios mantêm corpo e naturalidade.


Com música eletrónica densa como Game de Martina Topley-Bird, o amplificador mantém o controlo, com textura e peso sem sacrificar a clareza. E em gravações mais intimistas, como Rosa Enjeitada de Aldina Duarte com António Zanbujo, revela subtileza e proximidade, destacando o tom das vozes sem o isolar da paisagem sonora.


HiFi Rose RA280


O estágio phono: uma surpresa agradável


Numa época em que muitos fabricantes tratam o phono como um mero extra, a HiFi Rose foi mais longe. O estágio MM integrado do RA280 mostra-se silencioso, equilibrado e musical. Gravações de álbuns como We Get Requests do Oscar Peterson Trio, revelam uma reprodução ampla e atmosférica, com baixo ruído e ganho consistente em relação às outras entradas. O resultado é uma escuta orgânica, em que o vinil se integra naturalmente no conjunto, sem soar forçado ou artificial.



Classe AD — uma nova forma de pensar a Classe D


A HiFi Rose designa esta arquitetura de “Classe AD”, refletindo a evolução dos circuitos Classe D com tecnologia GaN FET. No RA280, o módulo PWM foi aperfeiçoado em relação ao RA180: os transístores CoolGaN da Infineon foram substituídos por SuperGaN FETs da Transphorm, garantindo menor distorção e ruído residual.


O controlo de comutação é gerido por um chip MOSFET IRS20957S, que assegura transições praticamente instantâneas entre estados, reduzindo o “tempo morto” para níveis residuais. Este detalhe técnico traduz-se numa experiência auditiva limpa, sem a granulosidade por vezes associada aos Classe D tradicionais.


HiFi Rose RA280


Conclusão — Hi-Fi com personalidade e propósito


O RA280 é um amplificador que se recusa a seguir modas. Em vez de oferecer tudo, faz apenas uma coisa e fá-la com maestria: amplificar som analógico com honestidade, potência e musicalidade. Disponível na Ajasom com um preço de 3.299 euros, oferece uma construção exemplar e um desempenho sonoro que combina o vigor da Classe D moderna com o calor e a expressividade de designs mais clássicos.


Se o RA180 era um manifesto de exuberância e espetáculo técnico, o RA280 é o seu contraponto elegante e contido — um amplificador sincero, com alma e precisão, fiel à filosofia da HiFi Rose: fazer as coisas de forma diferente, mas sempre com propósito.


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