Acoustic Energy Corinium: na alta-fidelidade mais caro nem sempre é melhor

Fernando Marques
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Acoustic Energy Corinium


Ouvir um bom desempenho a partir de umas colunas de som numa sala de audição dedicada de uma loja de alta-fidelidade é um processo relativamente comum. Já replicar esse resultado em casa, com as mesmas colunas de que tanto gostámos, é um desafio bem diferente. As salas de estar “reais” raramente possuem o tratamento acústico adequado que encontramos nos auditórios especializados.


Foi, por isso, com alguma relutância que aceitámos o desafio lançado pelo João Pina, da Exaudio, para trazer as Acoustic Energy Corinium para teste. Sabíamos que as coisas se poderiam complicar: estamos a falar de colunas de chão com pórtico traseiro, que pesam 40 kg cada uma. Apesar de termos conseguido desencaixotá-las e colocá-las no sítio sozinhos, fica a recomendação óbvia: um segundo par de mãos é altamente aconselhável.


Com surpresa, em trinta anos no hobby da alta-fidelidade, esta foi talvez a segunda vez que ficámos genuinamente boquiabertos logo na primeira audição. Mas já lá vamos.



A herança da Acoustic Energy


Das quatro grandes marcas históricas de colunas britânicas, apenas a Monitor Audio permanece privada e com capital britânico. A Bowers & Wilkins (B&W), a KEF e a Tannoy estão hoje em mãos norte-americanas, de Hong Kong e das Filipinas, respetivamente. A Acoustic Energy (AE) nasceu em 1987, em Ealing, Londres, pela mão de Phil Jones, oriundo da Vitavox. Tornou-se célebre com o lançamento das monitoras AE1, que redefiniram as expetativas para colunas compactas: graves profundos, potência notável e níveis de pressão sonora invulgares para o tamanho.


A marca passou por várias fases e diversos proprietários, incluindo o grupo malaio Formosa Prosonic. Tal como aconteceu com outros nomes lendários britânicos absorvidos por conglomerados asiáticos (a International Audio Group detém hoje, entre outras, a Audiolab, Quad ou Wharfedale), a AE perdeu algum fulgor junto do público ocidental. No entanto, em abril de 2017, um grupo de engenheiros britânicos readquiriu a empresa, trazendo-a novamente “para casa”. Este regresso coincidiu com o lançamento da Fyne Audio, criada por antigos engenheiros da Tannoy, reforçando a tendência de revitalização de marcas clássicas no Reino Unido.



O nascimento das Corinium


As Corinium, lançadas no final de 2023, representam um marco para a Acoustic Energy. O nome presta homenagem à antiga designação romana da cidade de Cirencester, próxima da sede da marca nos Cotswolds. Tradicionalmente reconhecida por monitores compactos de referência, a AE arriscou agora com um par de colunas de chão dignas de estatuto audiófilo hi-end — um passo significativo para a sua identidade.


Acoustic Energy Corinium

O projeto demorou três anos de desenvolvimento, com a meta clara de superar as anteriores topo de gama, AE520. Para tal, a AE apostou em materiais de excelência: caixas em aglomerado de alta densidade (HDF) com até 45 mm de espessura e camadas internas de borracha para supressão de ressonâncias; defletor frontal em alumínio de 6 mm, que além de reforço estrutural contribui para o isolamento do tweeter e para um design distinto; geometria em formato de casco de barco, para maior rigidez; novos drivers de fibra de carbono e tweeter de cúpula macia, otimizados para rapidez e baixa coloração; crossover de três vias com componentes audiófilos, incluindo condensadores de polipropileno metalizado.


Com 92 dB de sensibilidade, estas colunas são relativamente fáceis de amplificar, mas são exigentes em termos de controlo. Amplificadores de válvulas bem concebidos — preferencialmente push-pull — podem ser uma boa combinação.


Acoustic Energy Corinium




Experiência de audição


As Corinium foram afinadas para salas de estar comuns, algo raro neste segmento. Normalmente, colunas de chão com pórticos traseiros geram excesso de graves em ambientes domésticos. Aqui, notou-se precisamente o contrário: o controlo e a rapidez nos graves são notáveis, sem perder corpo nem impacto. O grave profundo no tema “Nowhere” do álbum de estreia homónimo de Marta Złakowska, colaboradora do músico britânico Tricky (que também produz), desde 2017, é reproduzido com texturas quase palpáveis sem “esborratar” a pintura geral da canção. Tricky foi um dos membros fundadores dos Massive Attack e depois de deixar a banda ganhou reputação com o seu estilo musical de Trip-Hop sombrio e complexo cheio de camadas com mistura de influências culturais e géneros díspares, incluindo hip hop, rock alternativo e ragga. As Corinium foram capazes de transmitir essa atmosfera na perfeição. Se rock é a sua preferência, também não vai ficar desapontado: na canção “Like a Stone”, dos Audioslave, a capacidade vocal e interpretação intensa de Chris Cornell, aliada às guitarras atmosféricas de Tom Morello e à base rítmica de Tim Commerford e Brad Wilk, são reproduzidas de forma impressionante.


Acoustic Energy Corinium


Testadas com os amplificadores residentes: TacT Millennium (150 W/8Ω) e Pro-Ject Stereo Box RS com fonte de alimentação linear externa (120 W/8Ω), um híbrido com válvulas no estágio de entrada e Classe D Hypex no andar de amplificação, as Corinium demonstraram muita versatilidade. A transparência, o detalhe e a dinâmica foram constantes, revelando nuances entre gravações e interpretações de forma consistente. Como se comparam com as colunas residentes planar-magnéticas, Diptyque dp77 que nos convenceram à primeira que seriam as nossas colunas de referência? Desde logo pelos graves, uma vez que estas apenas conseguem descer até aos 50Hz e segundo a Acoustic Energy as Corinium conseguem reproduzir baixas frequências até aos 32Hz. Fomos também apanhados de surpresa pela tonalidade sem coloração e resolução das gamas média e alta que tanto apreciamos nas planar-magnéticas, mas que dificilmente se encontram em colunas de chão com altifalantes dinâmicos neste patamar de preços.


Acoustic Energy Corinium


Conclusão


Com um preço a rondar os 7.000 €, as Corinium posicionam-se como a proposta mais ambiciosa da Acoustic Energy até à data. O acabamento em British Racing Green de 14 camadas de brilho intenso, embora opcional (+1.000 €), reflete bem o orgulho britânico que a marca procura recuperar. Se procura colunas de chão com velocidade, potência, musicalidade e elegância, e tem orçamento disponível, as Acoustic Energy Corinium merecem estar na sua lista de audição obrigatória.


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